Toma lá dá cá. Um indiscreto mercado de trocas, promessas, propinas, favores e outros negócios povoam parlamentos e gabinetes executivos, com oferta vasta e demanda corriqueira dos mais diversificados produtos, inclusive cargos, nomeações, comissões etc.
Dá cá toma lá. O processo de deterioração cresce horizontal e verticalmente, à sombra de outras sombras em ritmo de idênticas relações. Projetos são inventados, desmontados, adiados, discutidos, rejeitados e, às vezes, até mesmo, aprovados por expressiva maioria, não de representantes, mas de interessados, sem ligar muito para os sofrimentos normativos e as inofensivas comissões éticas. Para não dizer eternas comissões éticas.
É isso que Aristóteles imaginava quando traçou os primeiros lineamentos da arte política? Eram essas as características que Cícero cultivou no senado romano? Creio que não. Também Hobbes e Maquiavel jamais cogitaram dessa espécie rasteira de política.
Desanimado, o povo brasileiro prefere não votar, votar em branco ou anular sua chance de escolher. Nem sim nem não, muito pelo contrário, talvez, quem sabe? Abster-se ou invalidar expressões de vontade significa não dizer, não reclamar, não concordar nem discordar, ou seja, não participar. Não são boas opções, mas retratam a realidade. Votando ou não, neste ou naquele, o eleitor acaba fabricando sombras mais ou menos corruptas do que seriam seus representantes.
Os representantes representam a representação. Os palcos políticos visíveis e invisíveis permanecem com suas luzes mortiças. Se na claridade da tarde ou na penumbra da madrugada, tanto faz. O cenário não é importante, a cena não tem relevância. Importante é representar à moda de Molière sem graça, Shakespeare sem drama, só tragédia revestida da sagrada armadura do mandato. Até quando?